Segundo o estudo, realizado pela fonoaudióloga Keila Knobel sob a orientação de Tanit Sanchez, indivíduos com audição normal podem ouvir ruídos fantasma, facilmente assimilados como zumbidos. Este problema aflige aproximadamente, 17% da população mundial.
A pesquisa, resultado da tese de doutorado de Knobel na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), envolveu a participação de 66 pessoas com audição considerada normal. Para verificar a hipótese, os integrantes foram isolados numa câmara silenciosa, mais especificamente, sem a emissão de ruídos.
O teste, aplicado em três etapas, relata a relevância do nível de silêncio e do grau de atenção. Com o foco nos estímulos auditivos, a primeira etapa teve o seguinte resultado: 68% dos participantes afirmaram que ouviram alguns zumbidos. Antes deles entrarem na cabine acústica, os pesquisadores os alertaram a respeito dos ruídos e que poderiam ouvi-los ou não.
Já a segunda etapa esteve conectada aos estímulos visuais. Os integrantes foram assim, informados de que alguma alteração na iluminação da cabine poderia ser percebida. O efeito determinado foi que 45,5% da amostra mencionou a percepção de ruídos, porém, estes não notaram as modificações na luz.
Na última e terceira etapa, a orientação repassada aos voluntários relacionou-se à montagem de um quebra-cabeça, conhecido como Torre de Hanói. A tarefa consiste na organização de discos de madeira, que possuem diferentes tamanhos, em três pinos. Nesse caso, a concentração inserida no experimento, demonstrou uma diminuição significativa, porque 19,7% dos participantes declararam ter ouvido ruídos fantasmas.
O método contrasta-se com um estudo realizado em 1953, o qual comprovou que 94% das pessoas, conduzidas à câmara silenciosa, relataram algum tipo de ruído. De acordo com esse dado, a maioria dos indivíduos teria algum zumbido, não o admitindo devido à recorrência de sons no ambiente. Contudo, a proporção averiguada pela pesquisadora distancia-se dessa descoberta, possivelmente pelo fato de a análise realizada na década de 50 não ter avaliado anteriormente, a audição dos envolvidos.
Outro elemento que despertou o interesse dos cientistas- relacionado à tese com parte de seus resultados publicados na revista Otolaryngology – Head and Neck Surgery e editada pela Academia Norte-Americana de Otorrinolaringologia- foi a presença de alucinações auditivas. A estimativa estabeleceu que 58% dos voluntários ouviu sons distintos daqueles perceptíveis para quem sofre de zumbido.
A descrição relatada por aqueles que tem zumbido geralmente, refere-se à ruídos semelhantes a um apito, a uma cachoeira, entre outros sons. Porém, vozes de pessoas, latidos de cães estiveram presentes na narrativa dos participantes. Isso pode ser causado, conforme a fala da fonoaudióloga, por um substrato fornecido pelo cérebro, mesmo em funcionamento normal. Portanto, quando há silêncio e a atenção está voltada à audição, o córtex auditivo é ativado, viabilizando o mecanismo para gerar as alucinações.
Destaca-se ainda, que o zumbido no ouvido não é uma doença. Esses ruídos sentidos com a mesma intensidade podem produzir diferentes reações, inclusive em pessoas saudáveis, sem a necessidade de buscar auxílio médico.